feliz natal

por instantes, sinto-me feliz.

há tanta coisa que podia ser diferente se estivesses ao meu lado, no entanto, neste momento, o facto de ter terminado as compras de natal, fazem de mim uma pessoa feliz. muito mais tranquila.

a falta que me fazes tem sido suportada por uma vida que corre depressa demais sem me dar tempo para distracções. em casa, abraço-me ao burro azul e pergunto-me como estarás.

***

é Natal. altura que qualquer criança espera ansiosamente por chegar. e o que sou eu senão uma criança?

ela está aqui... connosco. a chuva não corre lá fora, mas se corresse não faria diferença. tudo pareceu voltar a ser o que antes fora. dizemos disparates, fazemos parvoíces e tentamos manter-nos assim: brilhantes. partilhamos o quarto, os cobertores e a roupa. partilhamos o espírito de natal e a estupidez natural com que ambas nascemos. tenho a certeza que os meus pais tentaram ter mais cuidado com a segunda, mas não chegaram a conseguir uma filha normal. ambas saíram avariadas. o problema é que as trocas só se podem fazer até uma certa altura e a descoberta de que o equipamento vinha com defeito já foi tarde demais. a casa ganha cor e uma nova vida sempre que ela grita, ri, adormece no sofá, a pisa de pantufas, espirra, refila... pertence aqui, ainda que já cá não esteja e apenas venha de "férias".

***

limito-me a sentar-me no sofá e admirar a luz, a cor e a abundância que circunda a nossa árvore. o pai natal está lá, de pé, com as suas barbas brancas caídas sobre o peito e pronto a entoar aquela melodia chata em que se abana todo e me faz rir muito.

amanhã é dia de doces.

que mais posso desejar além disto? eu sei a resposta e também tu a sabes, mas não posso dizê-la alto porque se torna numa ausência demasiado real.

amanhã é Natal, depois também.

até regressar ao mundo lá fora, sinto-me feliz.